A greve dos profissionais da educação deve ser entendida no conjunto de mobilizações e lutas que ocorreram no país após “as jornadas de junho”, em que transporte público, saúde, educação de qualidade e a contestação aos investimentos públicos nos megaeventos foram temas recorrentes. Diferentes setores da sociedade não só sinalizavam a sua insatisfação, como também exigiam respostas do Estado.
Os governos, todos comprometidos com a lógica do capital, apressaram-se em rebater com propostas de redução ou congelamento de tarifas nos transportes, promessas de “reforma política”, destinação de royalties do petróleo para a saúde e educação – privada inclusive. A mídia burguesa fazia sua parte, tentando domesticar as manifestações e condenando os “excessos“, com a ajuda inconsciente – queremos acreditar – de campos equivocados da dita esquerda. Deveria ser tudo passageiro.
É nesse contexto que os movimentos sociais organizados, sindicatos e partidos políticos comprometidos com a classe trabalhadora assumem um papel fundamental. Era necessário dar continuidade ao clamor popular das jornadas de junho, era preciso qualificar e aprofundar alguns debates, denunciar as falácias dos governos,romper com as falsas verdades da mídia burguesa. Essa luta deveria continuar onde havia começado: nas ruas.
A nossa greve cumpriu um importante papel: voltamos às ruas com apoio popular, com diversos movimentos sociais organizados que também pautaram a suas reivindicações. Qualificamos o debate sobre educação pública com a população levantando temas como a privatização e a meritocracia, incompatíveis com uma educação de qualidade e com os interesses dos trabalhadores. Nesse aspecto, fomos vitoriosos.
Tensionamos o estado burguês a mostrar a sua verdadeira face, pois na ausência de argumentos resgatou as antigas práticas fascistas de repressão aos trabalhadores organizados. Ficou claro para a sociedade que essa mesma política de segurança pública que há anos faz vítimas nas favelas também reprime sem limites todos aqueles que ousam se opor à opressão, seja na educação, na saúde ou nas remoções de populações para atender a interesses empresariais. Nossa luta foi e é fundamental.
Contudo poderíamos ter avançado mais. Houve erros de avaliação quanto à dimensão política de nossa greve, que poderia ter sido apontada para todas as redes públicas de educação do Estado do RJ, já que praticamente todas elas são permeadas pela mesma lógica e regida pelos mesmos princípios contra os quais os profissionais da educação se insurgiram. A ausência de uma mediação, papel da diretoria do sindicato, entre as diferentes posições que compõe a vanguarda da categoria gerou desconfianças e inseguranças que minaram o movimento.
Nesse sentido, a inexistência de um fundo de greve também mostrou-se aguda, exigindo quase uma disposição à “imolação” dos militantes da greve frente ao crescimento da intransigência e covardia do governo. Soma-se a isso fato de que, por mais que alguns ignorassem, a conjuntura geral não fez com que o movimento da rede estadual deixasse de ter algumas especificidades. Embora situado no momento atual de muitas lutas e grande desgaste dos governos, é marcado também, entre outras coisas, pela memória desmobilizante dos sucessivos erros em greves e paralisações anteriores e pelo afastamento entre grande parte da categoria e o Sepe.
Num dado momento, tornou-se gritante um descompasso entre a diretoria do Sepe e a base da categoria. Guardadas as devidas proporções, ficou evidente que havia também muitas divergências de fundo entre os grupos que compõem a própria diretoria. Com suas próprias características, havia ainda grande descompasso no interior da própria base, entre seus diferentes setores, inclusive os que se arrogam a autoridade de falar por toda a base. Não bastasse isso, houve ainda um descompasso entre as greves no município e no estado, as quais, embora simultâneas, estiveram pouco articuladas. A maior parte da diretoria priorizou a greve municipal, causando a sensação de abandono da rede estadual.
A falta de percepção de algumas “correntes” de que a conjuntura era composta por movimentos com ritmos diferenciados e, portanto, demandavam formas de enfrentamento diferenciadas, passou um sentimento de derrota para setores da categoria, especialmente quando a greve se esgotava taticamente. Tudo isso ocorre em meio a uma feroz disputa interna. A disputa interna no sindicato é essencial, mas o que deve estar em primeiro lugar são as necessidades da categoria, sem autofagia. Isso nem sempre foi levado em conta, deixando os militantes em greve expostos.
Além disso, é bom lembrar que uma luta pressupõe a existência de pelo menos dois lados e que as suas consequências não dependem, portanto, apenas das ações de cada um deles isoladamente. Ambos se movem. A resultante de uma luta é síntese de múltiplas determinações, sendo incorreto, portanto, pretender reduzir a um ou poucos fatores. Além dos erros cometidos do nosso lado, não se deve esquecer que o governo age para nos dividir, amedrontar, desgastar, etc., não sendo razoável subestimar em demasia seus meios para tais fins.
Vacilações na condução dos atos de rua criaram feridas abertas. Posições equivocadas – na forma e no conteúdo – em relação a grupos como os Black Blocs, decisões unilateriais e posturas dúbias quanto ao caráter de classe tiveram consequências nefastas, como a criação de um certo clima golpista no seio do Sepe. Houve hesitação até mesmo na relação com a Polícia Militar, por parte tanto de grupos que estão na diretoria do sindicato como de outros que não estão. Por fim, o excessivo peso dado a aspectos jurídicos e parlamentares constitui-se em um erro político, pois trata-se de um estado de classe, instrumento de dominação (por mais mediações e complexidades que apresente), um estado burguês, que sempre utilizará de seu aparato judiciário e legislativo para sua defesa, nunca para a defesa da classe trabalhadora.
Acreditamos que um balanço do movimento é extremamente importante e necessário, porém o seu objetivodeve ser o de fortalecer o sindicato, a serviço dos profissionais da educação, de um projeto contra hegemônico de educação, numa perspectiva maior de transformação da sociedade. Hoje temos tarefas prioritárias: intensificar o debate com a base da categoria e com setores organizados dos trabalhadores; assegurar que não haja retaliações aos que participaram da greve; formular propostas profundas para discutir próximo Congresso do Sepe; contribuir para o fortalecimento da categoria em si, superando o imobilismo de grandes parcelas; construir o fortalecimento da categoria para si, extrapolando o corporativismo e a pequena política; fomentar a atuação do Fórum Estadual Em Defesa da Escola Pública, indo além da dimensão sindical e incrementando a luta em unidade com os movimentos que apoiaram nossas pautas nas ruas; fazer a defesa acirrada dos princípios e práticas de sindicato pela base e organização no local de trabalho, desenvolvendo o papel dos conselhos de representantes de escola; massificar a bandeira do poder popular nas escolas, com eleições diretas para diretores, conselho escolar como instância máxima deliberativa e fim dos agentes do governo dentro das unidades; por um plano estadual de educação da classe trabalhadora; contra o privatismo, ampliar o debate por um projeto de educação, associado ao projeto de uma nova sociedade.
Manter viva a chama das jornadas de junho. À luta companheiros!
BASE DE EDUCADORES DA UNIDADE CLASSISTA
A greve dos profissionais da educação deve ser entendida no conjunto de mobilizações e lutas que ocorreram no país após “as jornadas de junho”, em que transporte público, saúde, educação de qualidade e a contestação aos investimentos públicos nos megaeventos foram temas recorrentes. Diferentes setores da sociedade não só sinalizavam a sua insatisfação, como também exigiam respostas do Estado.
Os governos, todos comprometidos com a lógica do capital, apressaram-se em rebater com propostas de redução ou congelamento de tarifas nos transportes, promessas de “reforma política”, destinação de royalties do petróleo para a saúde e educação – privada inclusive. A mídia burguesa fazia sua parte, tentando domesticar as manifestações e condenando os “excessos“, com a ajuda inconsciente – queremos acreditar – de campos equivocados da dita esquerda. Deveria ser tudo passageiro.
É nesse contexto que os movimentos sociais organizados, sindicatos e partidos políticos comprometidos com a classe trabalhadora assumem um papel fundamental. Era necessário dar continuidade ao clamor popular das jornadas de junho, era preciso qualificar e aprofundar alguns debates, denunciar as falácias dos governos,romper com as falsas verdades da mídia burguesa. Essa luta deveria continuar onde havia começado: nas ruas.
A nossa greve cumpriu um importante papel: voltamos às ruas com apoio popular, com diversos movimentos sociais organizados que também pautaram a suas reivindicações. Qualificamos o debate sobre educação pública com a população levantando temas como a privatização e a meritocracia, incompatíveis com uma educação de qualidade e com os interesses dos trabalhadores. Nesse aspecto, fomos vitoriosos.
Tensionamos o estado burguês a mostrar a sua verdadeira face, pois na ausência de argumentos resgatou as antigas práticas fascistas de repressão aos trabalhadores organizados. Ficou claro para a sociedade que essa mesma política de segurança pública que há anos faz vítimas nas favelas também reprime sem limites todos aqueles que ousam se opor à opressão, seja na educação, na saúde ou nas remoções de populações para atender a interesses empresariais. Nossa luta foi e é fundamental.
Contudo poderíamos ter avançado mais. Houve erros de avaliação quanto à dimensão política de nossa greve, que poderia ter sido apontada para todas as redes públicas de educação do Estado do RJ, já que praticamente todas elas são permeadas pela mesma lógica e regida pelos mesmos princípios contra os quais os profissionais da educação se insurgiram. A ausência de uma mediação, papel da diretoria do sindicato, entre as diferentes posições que compõe a vanguarda da categoria gerou desconfianças e inseguranças que minaram o movimento.
Nesse sentido, a inexistência de um fundo de greve também mostrou-se aguda, exigindo quase uma disposição à “imolação” dos militantes da greve frente ao crescimento da intransigência e covardia do governo. Soma-se a isso fato de que, por mais que alguns ignorassem, a conjuntura geral não fez com que o movimento da rede estadual deixasse de ter algumas especificidades. Embora situado no momento atual de muitas lutas e grande desgaste dos governos, é marcado também, entre outras coisas, pela memória desmobilizante dos sucessivos erros em greves e paralisações anteriores e pelo afastamento entre grande parte da categoria e o Sepe.
Num dado momento, tornou-se gritante um descompasso entre a diretoria do Sepe e a base da categoria. Guardadas as devidas proporções, ficou evidente que havia também muitas divergências de fundo entre os grupos que compõem a própria diretoria. Com suas próprias características, havia ainda grande descompasso no interior da própria base, entre seus diferentes setores, inclusive os que se arrogam a autoridade de falar por toda a base. Não bastasse isso, houve ainda um descompasso entre as greves no município e no estado, as quais, embora simultâneas, estiveram pouco articuladas. A maior parte da diretoria priorizou a greve municipal, causando a sensação de abandono da rede estadual.
A falta de percepção de algumas “correntes” de que a conjuntura era composta por movimentos com ritmos diferenciados e, portanto, demandavam formas de enfrentamento diferenciadas, passou um sentimento de derrota para setores da categoria, especialmente quando a greve se esgotava taticamente. Tudo isso ocorre em meio a uma feroz disputa interna. A disputa interna no sindicato é essencial, mas o que deve estar em primeiro lugar são as necessidades da categoria, sem autofagia. Isso nem sempre foi levado em conta, deixando os militantes em greve expostos.
Além disso, é bom lembrar que uma luta pressupõe a existência de pelo menos dois lados e que as suas consequências não dependem, portanto, apenas das ações de cada um deles isoladamente. Ambos se movem. A resultante de uma luta é síntese de múltiplas determinações, sendo incorreto, portanto, pretender reduzir a um ou poucos fatores. Além dos erros cometidos do nosso lado, não se deve esquecer que o governo age para nos dividir, amedrontar, desgastar, etc., não sendo razoável subestimar em demasia seus meios para tais fins.
Vacilações na condução dos atos de rua criaram feridas abertas. Posições equivocadas – na forma e no conteúdo – em relação a grupos como os Black Blocs, decisões unilateriais e posturas dúbias quanto ao caráter de classe tiveram consequências nefastas, como a criação de um certo clima golpista no seio do Sepe. Houve hesitação até mesmo na relação com a Polícia Militar, por parte tanto de grupos que estão na diretoria do sindicato como de outros que não estão. Por fim, o excessivo peso dado a aspectos jurídicos e parlamentares constitui-se em um erro político, pois trata-se de um estado de classe, instrumento de dominação (por mais mediações e complexidades que apresente), um estado burguês, que sempre utilizará de seu aparato judiciário e legislativo para sua defesa, nunca para a defesa da classe trabalhadora.
Acreditamos que um balanço do movimento é extremamente importante e necessário, porém o seu objetivodeve ser o de fortalecer o sindicato, a serviço dos profissionais da educação, de um projeto contra hegemônico de educação, numa perspectiva maior de transformação da sociedade. Hoje temos tarefas prioritárias: intensificar o debate com a base da categoria e com setores organizados dos trabalhadores; assegurar que não haja retaliações aos que participaram da greve; formular propostas profundas para discutir próximo Congresso do Sepe; contribuir para o fortalecimento da categoria em si, superando o imobilismo de grandes parcelas; construir o fortalecimento da categoria para si, extrapolando o corporativismo e a pequena política; fomentar a atuação do Fórum Estadual Em Defesa da Escola Pública, indo além da dimensão sindical e incrementando a luta em unidade com os movimentos que apoiaram nossas pautas nas ruas; fazer a defesa acirrada dos princípios e práticas de sindicato pela base e organização no local de trabalho, desenvolvendo o papel dos conselhos de representantes de escola; massificar a bandeira do poder popular nas escolas, com eleições diretas para diretores, conselho escolar como instância máxima deliberativa e fim dos agentes do governo dentro das unidades; por um plano estadual de educação da classe trabalhadora; contra o privatismo, ampliar o debate por um projeto de educação, associado ao projeto de uma nova sociedade.
Manter viva a chama das jornadas de junho. À luta companheiros!
BASE DE EDUCADORES DA UNIDADE CLASSISTA
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